O objetivo da pesquisa buscou sistematizar em dados a realidade da comunidade escolar para a elaboração de um diagnóstico mais fidedigno possível sobre a Rede Municipal de Ensino no Rio Grande do Norte neste período de pandemia, bem como subsidiar as equipes para elaboração de plano das retomadas das aulas presenciais.
Para tal finalidade, a pesquisa contou com a colaboração da Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC) na fase de elaboração dos questionários, que corresponde ao período de suspensão das atividades presenciais e aulas remotas, e do apoio técnico dos/as professores/as e estudantes do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para realização da análise e tabulação dos dados. Neste relatório, apresentamos os dados dos questionários aplicados durante o período da pesquisa, a fim de compreender como os municípios potiguares vêm se organizando na tarefa de educar em tempos tão difíceis.
Ao todo, a pesquisa contou com a participação de 70.475 integrantes da comunidade escolar, sendo ela subdividida em 5 pesquisas: 1) Gestores das Secretarias Municipais de Educação (total de respondentes = 167); 2) Gestores Escolares (total de respondentes = 1.124); 3) Professores (total de respondentes = 10.028); 4) Servidores da Educação (total de respondentes = 5.259) e 5) Alunos das Escolas Municipais (total de respondentes = 53.879).
Para Alexandre Soares, Presidente da Undime/RN e Dirigente Municipal de Educação de Monte Alegre, a pesquisa é um instrumento diagnóstico importante para Educação Básica Potiguar, pois apresenta de que forma os municípios têm se organizado para enfrentar a crise do coranavírus na educação. Para o professor Alexandre, “as aulas remotas são uma realidade. Os resultados da pesquisa apontam que a rede municipal, apesar de todas as dificuldades, têm buscado diferentes estratégias para garantir o direito e acesso à educação”.
O presidente da Undime/RN considera ainda que a comunidade escolar precisa se planejar para o retorno das aulas de forma gradual, o que não significa um retorno imediato, mas sim, o planejamento dos gestores, escolas e da família de como serão as rotinas em um possível retorno. “Todos ficam muito assustados quando falamos em planejamento de retorno. É importante destacar que o planejamento é parte de um processo para que dotemos de nossos espaços de medidas preventivas. Além disso, os dados da pesquisa já mostram percentuais consideráveis de profissionais e estudantes dentro do grupo de risco, o que requer ainda mais atenção de todos”, afirma.
A professora Sandra Gomes, do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), coordenou os trabalhos de tabulação das pesquisas, além de Sandra, outros professores e estudantes da pós graduação compuseram a equipe.
Eles consideraram que nestes dados há as limitações nos resultados pelos aspectos que estão relacionados às limitações e erros comuns de aplicação de um questionário “online” em comparação àquela aplicada presencialmente e diretamente por entrevistadores treinados para este fim. “Ainda que se trate de um volume expressivo de respostas, em todos os segmentos, é preciso ter em mente que, justamente aqueles que não tem nenhum ou baixo acesso à Internet, não terão suas vozes registradas nesses resultados”, pontua a professora, que considerou bem-vinda a iniciativa da Undime/RN de aplicar questionários para as várias categorias da comunidade escolar para poder ter informações substantivas para a tomada de decisão.
“Com informações à mão e interpretação cuidadosa dos dados, é possível melhorar a capacidade de planejamento e execução das ações de secretarias municipais de ensino, afetando de modo positivo o bem estar de gestores escolares, professores, funcionários, alunos, pais e responsáveis dos alunos. Devido à gravidade e ineditismo do momento em que estamos vivendo frente à pandemia, trata-se de uma iniciativa importante escutar as condições de todos os envolvidos na educação municipal do estado do Rio Grande do Norte”, pontuou no relatório a equipe do Departamento de Políticas Públicas da UFRN.
A Undime/RN espera que, o diagnóstico apresentado, possa auxiliar as Secretarias Municipais de Educação a criar e/ou aperfeiçoar as estratégias de aprendizagem na implementação das aulas remotas e, também, contribuir na construção dos seus respectivos protocolos de segurança para o retorno seguro de suas atividades presenciais.
Pesquisa 1: Dados dos Dirigentes Municiais de Educação comprovam que praticamente a totalidade dos municípios do RN adotou algum tipo de atividade não presencial durante a pandemia (92%); Com relação às estratégias para alcançar todos os alunos das redes, sem exclusão, a maioria das SMEs afirma que sim, tem, forma plena (64%), em seus planos de ações, formas de atingir todos os alunos. Porém, nota-se ainda algumas dificuldades para este alcance em outra parte significativa de municípios, cerca de 30% dos municípios destacam que tem conseguido alcançar a totalidade dos alunos ainda de forma parcial.
As formas predominantes de comunicação das SMEs com as escolas são por meio do WhatsApp (96%) e ligações telefônicas (86%) e, em menor medida, mas ainda assim elevado, por meio de aplicativos de videoconferência (79%).
Pesquisa 2: Dados dos Gestores escolares demonstram que 43,7% das escolas fazem uso do sistema CONVIVA e apenas 12,9% não utilizam um sistema eletrônico para cadastro de turmas; Há cerca de 420 mil alunos cadastrados em sistemas eletrônicos; 91,5% dos professores estavam trabalhando com atividades não presenciais; 43% dos alunos que estão em atividades não presenciais não fazem a devolutiva das atividades, o que parece ser um problema recorrente, citado, inclusive, por outros membros da comunidade escolar em outros relatórios; 98,2% das escolas mantiveram comunicação com a família dos estudantes, principalmente fazendo uso do WhatsApp (97,5%) e de ligações telefônicas (73,8%);
Pesquisa 3: Dados dos professores mostram que a vasta maioria declara ser servidor público (67%) e apenas 23% é composta por contratos temporários; Dentre os respondentes, 83% precisaram mudar muito ou totalmente a rotina desde as primeiras notificações de COVID-19. Encontrou-se nas respostas dos professores, que estes declaram se preocupar mais com a saúde de seus familiares, do que com a sua própria; Dentre as situações de risco mais declaradas estão hipertensão, diabetes e asma.
Entre os docentes que possuem e podem utilizar dispositivos tecnológicos, 90% dispõem de celular, 53% de notebook, 51% de televisão, 21% de computador desktop, 8% de rádio e 7% de tablet. Sendo o instrumento tecnológico mais acessível para atividades relativas ao trabalho remoto o celular – onde quase a totalidade dos professores têm à disposição –, seguido do notebook. Contudo, há uma grande discrepância no universo da amostra entre o acesso ao celular e ao notebook.
Somados, 83% dos respondentes afirmam que é importante manter as atividades escolares de maneira remota para não comprometer o ano letivo.
Pesquisa 4: Dados dos Servidores da educação apresentam que a média de idade dos mesmos é de aproximadamente 44 anos. No total de servidores, que faz parte do grupo de risco devido as comorbidades como diabetes, hipertensão, problemas cardíacos – aproximadamente 25% dos respondentes apontam ter essa condição – e outros 17% com problemas respiratórios; Os servidores estão mais preocupados, durante a pandemia, com a saúde da família do que com a sua própria saúde física e mental;
Por volta de 35% dos respondentes têm contratos temporários ou são terceirizados e a maioria é servidor público concursado, mais de 60%.
Pesquisa 5: Dados dos Estudantes demonstram que cerca de 13% do total de alunos matriculados (levando em conta as matrículas do Censo Escolar de 2018) responderam ao questionário. Ainda que haja uma defasagem entre o Censo Escolar de 2018 e o ano atual (2020), é razoável assumir que o número de matrículas tem alta correlação com o universo atual.
Os alunos destacam que sentem falta da escola; em primeiro lugar, sentem falta dos amigos e em segundo, dos professores. Claramente, um reconhecimento dos alunos sobre a importância da escola em suas vidas.
Cerca de 90% dos respondentes tem um celular que seria possível para estudar. a existência de equipamentos como computador, notebook ou tablet é bastante baixa; Destaque para alunos, ainda que poucos, que não tem nenhum acesso à internet ou mesmo um celular. Nestes casos, os canais de comunicação restringem-se à televisão e rádio.
Uma proporção bastante elevada dos responsáveis pelo domicílio (pais e responsáveis) têm uma escolaridade baixa, o que traz implicações para a capacidade de apoio que essas pessoas podem dar aos alunos durante o estudo remoto. Mais da metade dos alunos respondem que suas famílias recebem o benefício do Programa Bolsa Família e quase a metade também informa que receberam o auxílio emergencial do Covid-19.
O tipo de dificuldade mais frequente para não conseguir acompanhar as aulas remotas ou online são, em ordem decrescente, de menções: 1. “Não tem ninguém que me ajude com as atividades” e 2. “Não tenho acesso à internet”. A vasta maioria (mais de 80%) dos alunos respondem que estão em isolamento social em casa e que raramente saem.
Cerca de 44% dos alunos respondentes afirmam que sua internet é geralmente boa e estável. Outros 49% informam que é instável ou cai várias vezes, além de cerca de 3% que não tem nenhum acesso à Internet. Cerca de 40% dos respondentes dizem estar recebendo a merenda escolar com frequência regular, enquanto 34% relatam não receber regularmente. Outros 15% informam que não estão recebendo e que precisam receber.