15 de março de 2018

Sem água para agricultura, não há comida para população urbana, diz especialista

De 2012 a 2016, o Brasil passou por problemas provocados pela falta de chuvas, sobretudo no Nordeste do país. De acordo com dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM), nesse intervalo de tempo, a região registrou prejuízos de R$ 104 bilhões por causa da seca. O valor equivale a cerca de 70% das perdas em razão desse fenômeno.
Outro exemplo de prejuízo causado pela escassez de chuva é a queda na produção de grãos no país, em 2016. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o feijão apresentou redução de 15,4%, na comparação com 2015. A produção de soja recuou 1,2%. Já o milho teve diminuição de 24,8% na produção.
Por isso, em anos de seca, os produtores agrícolas precisam suprir a falta de chuva com o processo de irrigação, que fornece água de maneira artificial para as plantações. Um levantamento apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que quase 70% de toda a água disponível no mundo é usada em atividades voltadas para a agricultura.
No entanto, a própria Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) remete a realidade para outro sentido. Isso porque, de acordo com a ONU, a população mundial deve chegar a 9 bilhões até 2050. Logo, estima-se que a demanda por alimentos aumente 70%.
Com base nisso, o pesquisador na área de recursos hídricos e irrigação da Embrapa Cerrado, Lineu Rodrigues, afirma que os projetos de irrigação devem ser sustentáveis, mas não limitados a ponto de deixar a população da cidade sem comida.
“Não tem como se produzir alimento sem água. A água é fundamental. O que nós temos que fazer é uma boa gestão dos nossos recursos. A gente tem muita água. Quando você tira Amazonas do processo, que é onde tem mais água, a gente usa 5% de todos os usos e 2,6% da agricultura irrigada. Mas, você tendo uma boa gestão, um bom planejamento, temos água suficiente para atender a todos os usos.”
No Distrito Federal, programas realizados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), voltados para o cultivo de grãos e frutas, têm funcionado, mesmo em épocas de estiagem. É o que afirma o diretor executivo da instituição, Rodrigo Marques.
“Nós temos conseguido altíssimas produtividades em todas as culturas. Morango, por exemplo, mesmo com a questão da crise hídrica, a gente conseguiu aumentar a produtividade, sem aumento de áreas, sem aumento de irrigação, só com algumas características que influenciaram. Por exemplo, o clima. Tiveram meses mais frios, então você conseguiu uma melhor viabilidade das mudas.”
Este ano, o Brasil será palco de um dos maiores eventos globais sobre o assunto: o Fórum Mundial da Água. De 18 a 23 de março, Brasília sediará as cerimônias com apresentações de projetos de diversos países para o uso racional da água em todo o planeta.
Um dos presentes será o presidente das Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa-DF), José Aderval da Silva. Ele lembra da relação que a água tem com os alimentos que vão diariamente para a mesa da população.
“Nós trazemos o programa do Desperdício Zero, que é um combate ao desperdício de alimentos, que é muito grande no Brasil. A Ceasa vai fazer várias apresentações de como combater o desperdício. Temos o entendimento que, você desperdiçando alimento, automaticamente você está desperdiçando grandes quantidades de água.”
O Fórum Mundial da Água é organizado pelo Conselho Mundial da Água e acontece a cada três anos. Esta será a oitava edição do evento e, pela primeira vez, um país do hemisfério sul será anfitrião.
Com a colaboração de Marquezan Araújo, reportagem Tácido Rodrigues